quarta-feira, 17 de março de 2010

Pra que tudo isso?

Sempre gostei de exageros... Por que abrimos mão de nossos sonhos com tanta facilidade? Aliás, sempre admirei os exagerados e, de certa forma os invejei (com uma inveja boa, se é que isso existe). Lembro-me de lições infantis que incentivaram a busca perseverante de sonhos, sem questionar suas possibilidades, cores, tamanhos, custos. Antes, pessoas exageradas não se intitulavam de tal forma, elas apenas eram sem medo; sem medo do que os outros pensavam, sem medo das consequências, porque, afinal de contas, as consequências são apenas a continuação que a vida dá para aquilo que começamos a escrever em nossas histórias.

Os professores que me contaram tais fábulas, responsáveis pelo nascimento de tantos anseios e devaneios, foram de igual forma responsáveis por diversos de seus velórios, tal qual a citação de Cazuza: “meus heróis morreram de overdose”, assim também vi meus sonhos morrerem, meus heróis falharem e meu mundo desfalecer. Os exagerados sempre fizeram alguma coisa, fizeram revoltas, fizeram greves, fizeram a diferença de certa forma. Colocamos rédeas sociais em nossas bocas, mentes e olhos, onde em meio a mortes e caos buscamos vida e ordem. Mas e hoje? Eles ainda existem? Não gosto dos exageros de hoje. Mesmo tendo por consciência o conceito de colheita, já não se planta mais, tamanha é a ânsia pela colheita.

Não se busca mais ‘ser’ intensamente, mas sim ‘ter’. E ainda se ‘ter’ fosse algo que valesse, mas o até o valor, hoje em dia não faz mais o mesmo sentido. Precisamos de exemplos, precisamos de pessoas perfeitas para nos basear, mas não estamos dispostos a sermos irrepreensíveis, eis então a controvérsia. ‘Ter’ passou a ser ‘adquirir’, e tem mais ‘valor’ quem mais adquiri. Pudera eu sonhar com a mudança proposta por Oswaldo Montenegro no poema: http://migre.me/rP9Q . Não se busca mais conhecimento por si mesmo, mas, sim, para se destacar dos demais, e assim, ‘ter’ mais. Se for assim, prefiro não ter. Um detalhe a ser ressaltado é que para que haja um “de agora em diante”, precisamos de um basta, mas quando e quem? Prefiro continuar sem nada, e continuar SENDO. Com intensidade, com verdade, com exagero. Não basta ser diferente, mas sim fazer a diferença.